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domingo, 26 de outubro de 2008

CHEGA DE ENGOLIR SAPOS


Grite alto e forte aquele que nunca esteve a ponto de explodir de raiva. Reprimi-la é o caminho certo para doenças que vão da gastrite à hipertensão. Nem por isso é para você sair por aí agredindo meio mundo. A melhor saída é aprender a lidar com esse sentimento sem perder o controle

por Regina Pereira | ilustração Daniel Bueno

A designer Virgínia Bohrer se livrou de ficar com um sapão entalado na garganta quando foi demitida. “Fiquei furiosa, mas durou pouco”, diz.
A gaúcha sempre praticou meditação e acredita que isso a ajudou a encarar melhor a situação.
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Buuummm!!!! De repente a panela de pressão lança tudo pelos ares. A válvula entupida impediu que o vapor fosse escapando aos poucos e aí, antes que você se desse conta do defeito, veio a explosão. Algo parecido acontece com nosso corpo quando a gente vive engolindo sapos. E, se tem um órgão que sofre com as emoções reprimidas, é o coração. Um estudo recente com mais de 3 mil pessoas durante dez anos, publicado na revista da American Heart Association, mostra que as mulheres que sofrem caladas nas discussões com o marido são seriíssimas candidatas a sofrer de doenças cardiovasculares. "A raiva libera substâncias como a adrenalina que, em excesso, estão por trás do aumento da freqüência cardíaca", explica o psicobiólogo José Roberto Leite, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Junte-se a isso a subida aos céus da pressão arterial e pronto: é risco dobrado para o coração, pode acreditar.

O estômago é outro que se dá mal quando a gente atura opressões no trabalho, na escola ou em casa, sem extravasar a ira. "Uma pitada de raiva não faz mal a ninguém, mas descargas de corticóides, outro tipo de hormônio relacionado à raiva acumulada, podem piorar úlceras e gastrites", avisa Leite. Para alimentar ainda mais essa química perversa acionada pelo sistema nervoso, se você engole um sapo, o órgão aumenta a produção de ácidos. Um prato cheio para a dor.

Tanto a adrenalina quanto os corticóides, liberados também em situações de estresse, têm a missão de preparar o corpo para a fuga diante do perigo. Isso vem desde a época em que o homem vivia nas cavernas e precisava se proteger das feras que rondavam seu território. Em situações de fúria acontece a mesmíssima coisa. Assim como o medo primitivo, essa emoção tão forte tem seu lado bom, porque mobiliza para a reação. "A raiva nos dá energia para a luta", explica o médico Norvan Leite, especialista em Medicina Chinesa, da clínica Com-Ciência, que fica na capital paulista. Pode ser o combustível que nos encoraja a correr atrás dos nossos objetivos. Com a designer têxtil Virgínia Bohrer, uma gaúcha de 42 anos, foi assim. Ela fez a ira virar o jogo em seu favor, não sem antes sofrer um bocado. Acompanhe sua história: "Fui demitida de uma empresa que era a minha vida. A surpresa foi tamanha que não consegui evitar que um forte sentimento de raiva tomasse conta de mim. Passei uma semana sem dormir e sem comer direito, só remoendo o dia em que recebi a notícia. Foi duro, mas percebi que o jeito era correr para a frente. Deu certo. Sempre fiz meditação e isso me ajudou. Depois de um mês, já refeita do baque, me tornei consultora de grandes empresas e me sinto uma profissional reconhecida novamente."

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